domingo, 16 de junho de 2013

Gênero: Crônica
Texto: “Meu primeiro beijo”



  • ·              Apresentação do título para os alunos: “Meu primeiro beijo” de Antonio Barreto.
  • ·         Levantamento hipóteses sobre o título: do que acham que o texto vai falar, se é um título chamativo, se teriam interesse em ler um texto com esse título.
  • ·         Leitura do texto (feita pelo professor), com algumas pausas para poder levantar algumas hipóteses e confirmando em seguida. Exemplo:

“É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi (onde será que aconteceu o primeiro beijo dessa pessoa, será um homem ou uma mulher?)num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? (Com quem vocês acham?) Com o Cultura Inútil!(Por que Cultura Inútil? Qual será o motivo desse apelido?) Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...(Assim como?)
  • ·         Levantamento das características do texto: primeiramente as características específicas de um texto narrativo e depois mais específicos de uma crônica.
  • ·         Leitura do texto “O primeiro beijo” de Clarice Lispector (feita pelo professor), com o mesmo levantamento de hipóteses do anterior.
  • ·         Comparar a “expectativas” dos dois textos, questionando qual dos dois gostaram e o motivo.
Texto 1
Meu Primeiro Beijo
    Antonio Barreto
      É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem 
        com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos 
          exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e 
            morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
              Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos 
                seus milhares de bilhetinhos:
                  "Você é a glicose do meu metabolismo.
                    Te amo muito!
                      Paracelso"
                        E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou 
                          com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de 
                            mulher... E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber 
                              que tipo de lance ia rolar.
                                No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, 
                                  veio com o seguinte papo:
                                    - Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
                                      Mas ele continuou:
                                        - Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias 
                                          e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou 
                                            na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
                                              - A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 
                                                0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo 
                                                  menos 250 bactérias...
                                                    Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os 
                                                      meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem 
                                                        os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso 
                                                          aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, 
                                                            fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro 
                                                              de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns 
                                                                segundos.
                                                                  E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, 
                                                                    o abismo do primeiro beijo.Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos 
                                                                      apaixonados por várias semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o 
                                                                        tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e 
                                                                          foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!

                                                                          Texto 2
                                                                          O PRIMEIRO BEIJO

                                                                          Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
                                                                          - Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

                                                                          - Sim, já beijei antes uma mulher.

                                                                          - Quem era ela? perguntou com dor.

                                                                          Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

                                                                          O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

                                                                          E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

                                                                          E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

                                                                          A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

                                                                          E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

                                                                          Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

                                                                          O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

                                                                          De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

                                                                          Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

                                                                          E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

                                                                          Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

                                                                          Ele a havia beijado.

                                                                          Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

                                                                          Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

                                                                          Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

                                                                          Ele se tornara homem.





                                                                          •  

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