sexta-feira, 28 de junho de 2013

Apresentação

Num país castigado pelo analfabestismo,o incentivo à leitura e a escrita,são muito mais que bem-vindos:são fundamentais.
O objetivo deste blog é valorizar a leitura e a escrita.Leitura em seu sentido mais amplo e efetivo,contribuindo para que as pessoas leiam muito,compreendam o que leem;e que escrevam com coerência e se comuniquem com clareza.
                                     Orientações para os Leitores


Realizamos no Encontro Presencial.divididos em grupos, SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM,com os seguintes textos: ''Avestruz" de Mário Prata,"Meu Primeiro Beijo" de Antônio Barreto e "Pausa" de Moacyr Scliar.



Nesta Situação de Aprendizagem discutimos e elencamos itens com a metodologia  e estratégias que seriam indicadas para aquele momento. Procuramos adequar o conteúdo de maneira que possibilitasse a  melhor maneira de aplicação do mesmo
Avestruz de Mário Prata

O filho de uma grande amiga pediu, de presente pelos seus dez anos, 
uma avestruz. Cismou, fazer o quê? Moram em um apartamento em 
Higienópolis, São Paulo. E ela me mandou um e-mail dizendo que a culpa era 
minha. Sim, porque foi aqui ao lado de casa, em Floripa, que o menino 
conheceu as avestruzes. Tem uma plantação, digo, criação deles. Aquilo 
impressionou o garoto.
Culpado, fui até o local saber se eles vendiam filhotes de avestruzes. E se 
entregavam em domicílio.
E fiquei a observar a ave. Se é que podemos chamar aquilo de ave. A 
avestruz foi um erro da natureza, minha amiga. Na hora de criar a avestruz, 
deus devia estar muito cansado e cometeu alguns erros. Deve ter criado 
primeiro o corpo, que se assemelha, em tamanho, a um boi. Sabe quanto pesa 
uma avestruz? Entre 100 e 160 quilos, fui logo avisando a minha amiga. E a 
altura pode chegar a quase três metros. 2,7 para ser mais exato.
Mas eu estava falando da sua criação por deus. Colocou um pescoço que 
não tem absolutamente nada a ver com o corpo. Não devia mais ter estoque de 
asas no paraíso, então colocou asas atrofiadas. Talvez até sabiamente para evitar 
que saíssem voando em bandos por aí assustando as demais aves normais.
Outra coisa que faltou foram dedos para os pés. Colocou apenas dois 
dedos em cada pé. 
Sacanagem, Senhor!
Depois olhou para sua obra e não sabia se era uma ave ou um camelo. 
Tanto é que logo depois, Adão, dando os nomes a tudo que via pela frente, 
olhou para aquele ser meio abominável e disse: Struthio camelus australis. Que é o nome oficial da coisa. Acho que o struthio deve ser aquele pescoço fino em 
forma de salsicha.
Pois um animal daquele tamanho deveria botar ovos proporcionais ao 
seu corpo. Outro erro. É grande, mas nem tanto. E me explicava o criador que 
elas vivem até os setenta anos e se reproduzem plenamente até os quarenta, 
entrando depois na menopausa, não têm, portanto, TPM. Uma avestruz com 
TPM é perigosíssima!
Podem gerar de dez a trinta crias por ano, expliquei ao garoto, filho da 
minha amiga. Pois ele ficou mais animado ainda, imaginando aquele bando de 
avestruzes correndo pela sala do apartamento.
Ele insiste, quer que eu leve uma avestruz para ele de avião, no domingo. 
Não sabia mais o que fazer.
Foi quando descobri que elas comem o que encontram pela frente, 
inclusive pedaços de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos, por exemplo. 
máquina digital de fotografia, times inteiros de futebol de botão e, 
principalmente, chuteiras. E, se descuidar, um mouse de vez em quando cai 
bem.
Parece que convenci o garoto. Me telefonou e disse que troca o avestruz 
por cinco gaivotas e um urubu.
Pedi para a minha amiga levar o garoto num psicólogo. Afinal, tenho 
mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz.

Situação de aprendizagem
Público alvo sexto ano:

Situação de Aprendizagem referente ao texto "Avestruz"de Mário Prata:
*Ativar o conhecimento prévio do aluno sobre o gênero textual crônica;
*Verificar se ele já ouviu falar sobre esse gênero, onde veícula e qual é a sua estrutura;
*Professor elencar na lousa com letra bastão e deixar registrado os itens colocados  pela sala referentes ao gênero crônica;
*Entregar as cópias do texto"Avestruz";
*Levantar hipóteses sobre o assunto que será abordado,observação através do título e ainda se possuem familiaridade com este animal;
*Em seguida o professor  realizará  a leitura e os alunos acompanham com os olhos; 
*Próximo passo, realizar a Leitura Compartilhada ou Colaborativa(professor e alunos possuem o mesmo texto);
*Checagem de hipóteses,verificar o que se confirma do levantamento realizado anteriormente;
*Mudar a disposição da sala, colocando-os em círculo com as cadeiras (sem os textos),para  recontarem o texto;
*Cabe ao professor neste momento observar se está sendo respeitada a sequência da narrativa e fazer as intervenções necessárias.

O professor: Um ator no papel de leitor

Na escola, a quem se atribui a responsabilidade de atuar como leitor? 
Enquanto a função de decidir sobre a validade das interpretações costuma ser reservada ao professor – como já vimos anteriormente –, o direito e a 
obrigação de ler costumam ser privativos do aluno
Ao adotar em aula a posição de leitor, o professor cria uma situação de 
ficção: procede “como se” a situação não tivesse lugar na escola, “como se” a  leitura estivesse orientada por um propósito não-didático – compartilhar com os outros um poema que o emocionou, ou uma notícia de jornal que o surpreendeu, por exemplo. Seu propósito é, no entanto, claramente didático: o que se propõe com essa representação é comunicar a seus alunos certos  traços fundamentais do comportamento leitor. O professor interpreta o papel de leitor e, ao fazê-lo, atualiza um significado da palavra “ensinar” que habitualmente não se aplica à ação da escola, significado cuja relevância, no caso da leitura, faz tempo tem sido apontada por M.E. Dubois (1984).
Mostrar para que se lê, quais são os textos que atendem a certa 
necessidade ou interesse, e quais serão mais úteis para outros objetivos, 
mostrar qual é a modalidade de leitura mais adequada para uma determinada finalidade, ou como o que já se sabe acerca do autor ou do tema tratado pode contribuir para a compreensão de um texto… Ao ler para as crianças, o professor “ensina” como se faz para ler.
Uma vez terminada a leitura, tanto no caso do texto literário quanto no 
do texto informativo, o professor põe o livro que leu à disposição das crianças, para que possam folheá-lo e possam se deter naquilo que lhes chamar mais a atenção, propõe que levem para casa esse livro e outros que achem interessantes… Faz propostas desse tipo porque quer que as crianças descubram o prazer de reler um texto do qual gostaram ou de evocá-lo, observando as imagens, porque considera importante que seus alunos continuem interagindo com os livros e compartilhando-os com os outros, porque não considera imprescindível controlar toda a atividade leitora de seus alunos.
O professor continuará atuando como leitor – embora certamente não 
com tanta freqüência como no início – durante toda a escolaridade, porque lendo materiais que ele considera interessantes, belos e úteis, poderá comunicar às crianças o valor da leitura.
Entretanto, operar como leitor é uma condição necessária, mas não 
suficiente para ensinar a ler. Quando as crianças se confrontam diretamente com os textos, o ensino adquire outras características, são necessárias outras intervenções do docente. Essas intervenções são orientadas para que as crianças possam ler por si mesmas, para que avancem no uso de estratégias eficazes, nas suas possibilidades de compreender melhor o que leem.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Orientações para os Leitores


Realizamos no Encontro Presencial.divididos em grupos, SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM,com os seguintes textos: ''Avestruz" de Mário Prata,"Meu Primeiro Beijo" de Antônio Barreto e "Pausa" de Moacyr Scliar.

Nesta Situação de Aprendizagem discutimos e elencamos itens com a metodologia  e estratégias que seriam indicadas para aquele momento. Procuramos adequar o conteúdo de maneira que possibilitasse a  melhor maneira de aplicação do mesmo

domingo, 16 de junho de 2013

Gênero: Crônica
Texto: “Meu primeiro beijo”



  • ·              Apresentação do título para os alunos: “Meu primeiro beijo” de Antonio Barreto.
  • ·         Levantamento hipóteses sobre o título: do que acham que o texto vai falar, se é um título chamativo, se teriam interesse em ler um texto com esse título.
  • ·         Leitura do texto (feita pelo professor), com algumas pausas para poder levantar algumas hipóteses e confirmando em seguida. Exemplo:

“É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi (onde será que aconteceu o primeiro beijo dessa pessoa, será um homem ou uma mulher?)num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? (Com quem vocês acham?) Com o Cultura Inútil!(Por que Cultura Inútil? Qual será o motivo desse apelido?) Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...(Assim como?)
  • ·         Levantamento das características do texto: primeiramente as características específicas de um texto narrativo e depois mais específicos de uma crônica.
  • ·         Leitura do texto “O primeiro beijo” de Clarice Lispector (feita pelo professor), com o mesmo levantamento de hipóteses do anterior.
  • ·         Comparar a “expectativas” dos dois textos, questionando qual dos dois gostaram e o motivo.
Texto 1
Meu Primeiro Beijo
    Antonio Barreto
      É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem 
        com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos 
          exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e 
            morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
              Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos 
                seus milhares de bilhetinhos:
                  "Você é a glicose do meu metabolismo.
                    Te amo muito!
                      Paracelso"
                        E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou 
                          com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de 
                            mulher... E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber 
                              que tipo de lance ia rolar.
                                No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, 
                                  veio com o seguinte papo:
                                    - Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
                                      Mas ele continuou:
                                        - Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias 
                                          e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou 
                                            na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
                                              - A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 
                                                0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo 
                                                  menos 250 bactérias...
                                                    Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os 
                                                      meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem 
                                                        os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso 
                                                          aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, 
                                                            fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro 
                                                              de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns 
                                                                segundos.
                                                                  E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, 
                                                                    o abismo do primeiro beijo.Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos 
                                                                      apaixonados por várias semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o 
                                                                        tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e 
                                                                          foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!

                                                                          Texto 2
                                                                          O PRIMEIRO BEIJO

                                                                          Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
                                                                          - Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

                                                                          - Sim, já beijei antes uma mulher.

                                                                          - Quem era ela? perguntou com dor.

                                                                          Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

                                                                          O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

                                                                          E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

                                                                          E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

                                                                          A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

                                                                          E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

                                                                          Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

                                                                          O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

                                                                          De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

                                                                          Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

                                                                          E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

                                                                          Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

                                                                          Ele a havia beijado.

                                                                          Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

                                                                          Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

                                                                          Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

                                                                          Ele se tornara homem.





                                                                          •