·
Construção
de uma situação de aprendizagem para explorar, desenvolver e ampliar
capacidades de leitura, a partir das seguintes estratégias (Ativação de
conhecimentos de mundo; antecipação ou predição; checagem de hipóteses.), com
base no texto “No aeroporto”
de Carlos Drummond de Andrade:
1 - Ativação de conhecimentos de mundo (Antes
da Leitura)
-
O que os alunos já sabem sobre o aeroporto?
-
Leitura de imagens: aeroporto, fluxo de pessoas, quem trabalha lá...
-
Quem vai ao aeroporto?
-
O que acontece em um aeroporto?
-
Que tipo de aeroporto pode ser: nacional ou internacional?
-
O que é preciso para viajar de avião? (documentos, idade, autorização)
2 - Antecipação ou predição (levantamento de
hipóteses sobre o texto)
Ler
o título e a primeira frase do texto: “Viajou meu amigo Pedro.” E considerar:
-
Quem é Pedro?
-
Qual é a relação dele com o narrador?
-
Para onde ele vai?
-
Qual é a importância dessa viagem para o narrador?
-
Diante dessas considerações; qual é o gênero do texto e sobre o que ele
tratará?
3 - Checagem de hipóteses (durante e depois
da leitura do texto)
-
Ler o texto por parágrafos e ir observando se as hipóteses levantadas se
confirmam ou não.
NO AEROPORTO - Carlos Drummond de Andrade
Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos
três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos
entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre
tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja
extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar
nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões
pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.
Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno.
Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não
direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu
sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções
para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores,
vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da
falta de dentes), abonam a classificação.
Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das
distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas horas
de sono - e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia - eram
respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não
acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente,
porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos.
Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para
violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à
tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no
escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância.
Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos
alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral,
artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta
das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de
fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém
duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de
suas pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que
afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus
atos.
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir
entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me
com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para
Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me
sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas
coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe
conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um
amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o
aeroporto ficou vazio.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em:
Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p.1107-1108
Imagem
final: Em resposta a pergunta “Quem é Pedro?
Atividade realizada em grupo no
encontro presencial do curso “Melhor Gestão, Melhor Ensino” em 15/06/2013.
Integrantes do grupo
Cristina
Miranda Aguillera
Edi
Carla Santos Barros
Elaine
Miguel Pereira
Flávia
Baldin de Souza Silva
Gleice
Kelly da Silva
Rosana
Kercher Kuramoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário